segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Meio- dia


Céu baço.
Quente quebrando
se espalha, no longe,
enquanto cantam cigarras à roda...
E parou-se a vida toda;
porque o sol tudo queimou.
Só, no ar quente, pairou
um negro corvo e poiso
sobre o montado sangrando,

nos troncos rudes despidos...

Redobram roucos zumbidos
de moscardo que passando,
em cega-rega, adormecem,
entorpecendo os sentidos...
...Sobre meus olhos cansados e cerrados
há véus de chamas que descem...

[de Poesia]
Meio - dia

Francisco Bugalho
Este foi o poeta a quem José Régio chamou o pintor da Natureza, pois este recorre a uma expressiva paleta de sensações com que ilustra a Natureza.

Nunca vi um alentejano a cantar sozinho...
















Nunca vi um alentejano a cantar sozinho com egoismo de fonte.

Quando sente voos na garganta,
desce ao caminho
da solidão do seu monte,
e canta
em coro com a familia do vizinho.

Não me parece pois necessária outra razão
-ou desejo
de arracar o sol do chão-
para explicar
a reforma agrária
do Alentejo.

É apenas uma certa maneira de cantar.


Circunstâncias, IV
José Gomes Ferreira
Poeta do Porto
in Alentejo não tem sombra antologia contemporânea sobre o Alentejo organizada por Eugénio de Andrade

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

As fotos registadas por "Zé do Torrão"

Alentejo é canto, melodia, polifonia...




Como é lindo o nosso Alentejo!








por "Zé do Torrão"







quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Fotografias tiradas por José Joaquim Mendes Palma Grosso

As fotografias que se seguem foram enviadas por José Joaquim Mendes Palma Grosso, tiradas na freguesia do Torrão- Álcacer do Sal





Muito obrigada pela sua participação!

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

José Agostinho de Macedo



Nome: José Agostinho de Macedo
Naturalidade: Nasceu em Beja em 1761

Poesia

A Cidade Bela
Quanto é bela Ulisseia! E quanto é grata
Dos sete montes seus ao longe a vista!
Das altas torres, pórticos soberbos
Quanto é grande, magnífico o prospecto!
Humilde e bonançoso o flavo Tejo,
Sobre areias auríferas correndo,
As praias lhe enriquecem, as plantas beijam.
Quão denso bosque de cavalos pinhos
Sobre a espádua sustenta! Do Oriente
Rubins acesos, fugidas safiras,
E da opulenta América os tesouros,
Cortando os mares líquidos, trouxeram.
Nela é mais puro o ar; e o Céu se esmalta
De mais sereno azul. O Sol brilhante,
E quase se suspende, e, meigo, envia
Sobre ela o raio extremo, quando acaba
A lúcida carreira, a frente de ouro
No seio esconde das cerúleas ondas.

José Agostinho de Macedo

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Rosa Helena Moita




Nome: Rosa Helena Moita
Naturalidade: Beringel
Data de nascimento: sem informação
Obras publicadas
Entre Margaças e Urtigas (1992) edição Câmara Municipal de Beja,
Poesia (1997), edição da Câmara Municipal de Beja
Poesia
Apresenta uma poesia popular com uma parte lírica e outra satírica

Recordações de um burro

Aquele burro velhote
Recordava a pouca sorte
Que teve na mocidade,
Foi sempre um burro de carga
Numas vida tão amarga
Que não lhe deixou saudade.

Sempre de albarda em cima
Sem amizade nem estima
Bum viver amargurado
Nunca teve o prazer
Nunca chegou a saber
O que era uma dia feriado.

Trabalhava sem parar
E nem podia zurrar,
Que lhe era proibido
Nem lá na sua cabana
Podia zurrar com gana
Com medo de ser ouvido.

Detestava o cabrestão
Que lhe tirava a visão
Para a esquerda e prá direita
Só podia ver em frente
E pra ele realmente
Era uma coisa mal feita.

Ao ver tanta maldade,
Ás vezes tinha vontade
De dar um coice ao patrão,
Mas, ao levantar a pata,
Levava com a arreata
E tinha de a pôr no chão.

O que mais lhe custava
Que mais o arreliava
E achava que era demais
Era ter de a qualquer hora
Andar tirando água à nora
Para os outros animais.

E ele o pobre burro,
Com medo de armar esturro
E ter um mau resultado,
Com prazer ou sem prazer
Lá ia tentando ser
Um burro bem comportado.

E quando era preciso
Também abanava o guiso
Disfarçava arrelias
E carregava a golpelha
Sacudia a orelha
Á espera de melhores dias.

E quando chegou o dia
Em que ele já podia
Zurrar à sua vontade
Aquele pobre coitado
Viu que já tinha passado
A sua melhor idade.

E assim o burro velhote
Que já está perto da morte
Ainda vai recordando
Uma vida pobre e tosca
Enquanto sacode a mosca
Que no lombo o vai picando.



O que sou eu?
Sou uma fonte que secou,
Ladeira que não crepita
Sou a luz que se apagou
A carta que não foi escrita.

Sou nuvem que passou,
A chuva que não choveu
Sou o sol que não raiou
A lua que se escondeu.

Sou a folha que caiu,
A neve que derregou.
A flor que não abriu
O vento que não soprou.

Sou a tela inacabada,
O sino que não tocou.
Sou a seara ceifada,
O fruto que não gerou.

Sou a ave que não voa,
O fumo que evaporou
A canção que não entoa,
O sal que já derregou.

Sou a árvore que morreu
Andorinha que partiu.
O livro que ninguém leu,
O castelo que ruiu.

Sou onda que se desfez
A estrela que se apagou
Sou tudo o que não se fez
Sou o tempo que passou.

E neste ser e não ser
Não sei o que aconteceu
Eu já nem chego a saber
Afinal o que sou eu.



Rosa Helena Moita

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Raimundo Emídio Afonso

Nome: Raimundo Emídio Afonso
Naturalidade: Nasceu em Ervidel a 29 de Setembro de 1932.
Apresenta críticas à sociedade através da sua poesia. Canta ao despique e baldão (cantigas espontâneas que obedecem a rima e métrica específica, cantiga tradicional do Baixo Alentejo).
Obras publicadas:
1997 – Viver e Recordar
1999- Factos e Suposições
2001 – Vivências
2003 – Minhas Memórias

Poesia


Poder irracional criado pelo Homem

I
Olho para o horizonte
Vejo uma estrela ao fundo
Está no cimo do monte
Onde se encontra a fonte
Que pode dar luz ao mundo
II
Clareza como a vejo
Bem fixa nesse cartaz
É todo o meu desejo
Com dignidade a protejo
Porque é símbolo da paz
III
Sigo muito atentamente
Os graves acontecimentos
Porque o perigo é eminente
E sei que a gente
Com pesados sofrimentos
IV
Sentir pelos iguais
O que com eles vai mal
Não passa sem dar sinais
Divulgando cada vez mais
A situação infernal
V
A própria humanidade
Há seres irracionais
Que não têm piedade
Usam com tanta maldade
Hábitos de canibais
VI
Espero que venha o dia
Que os mesmos vão entender
E toda essa filosofia
Usada com tirania
Pode vir a inverter

Raimundo Emídio Afonso

segunda-feira, 26 de maio de 2008


Nome: Catarina Malanho Semedo
Naturalidade: Nasceu em Fronteira, distrito de Portalegre.
Licenciada em Direcção Pedagógica e Administração Escolar e Mestrado em Ciências da Educação. Sempre ligada ao ensino confessa-se uma apaixonada da pintura e da poesia.
Obras publicadas: É co-autora de várias antologias e da colectânea Aragem Poética e é autora do livro Momentos Escritos e Coloridos.

Poesia


Acordem, Poetas

Não se deixem embalar
Por promessas que há no ar,
Lutem com as armas que têm
Dizendo tudo o que sentem
Deste povo, desta gente.
Não queiram ficar de for
Nestes tempos, nesta hora,
Que tudo está a ruir.
Nunca pensem desistir
Que um lugar vão conseguir
Com os vossos argumentos
Que falam de sentimentos.
Ajudem a acreditar
Aos tristes desesperados
Que serão recompensados
E àqueles cuja maldade
A todos tente enganar
Façam sentir que algum dia
Pelo dobro vão pagar…
Não vale a pena enganar!


Criança

Flor em botão
Que nasce sem querer
Sem ter o poder
De dizer que não!
E aceita sem jeito
Tudo o que lhe dão
Criança, escuta:
Tu que entras na vida
Num choro-promessa
De paz e amor
E trazes no riso o milagre da Cor,
O Eco-mistério da Criação,
Só tu consegues ainda
Mesmo a sonhar…
A imaginar…
Ter o Mundo na mão
Por isso sonha,
E canta Criança!
Que nós precisamos da tua Canção…


Catarina Malanho Semedo

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Florbela Espanca


Nome: Florbela Espanca
Naturalidade: Nasceu em Vila Viçosa, a 8 de Dezembro de 1894.
Filha ilegítima de uma "criada de servir" que faleceu muito nova. Apesar de ter sido registada como filha de pai incógnito, foi educada pelo pai e pela madrasta, em Vila Viçosa.
Estudou em Évora e mais tarde foi estudar para Lisboa, frequentando a Faculdade de Direito.
Através da sua poesia cultivou exasperadamente a paixão, no feminino como que a precipitar a emancipação literária da mulher.
Tornar-se-ia imortal através de uma poesia de desencantamento angústia e de solidão. O Alentejo e a paisagem alentejana estão, também, presentes em imagens e poemas.
Poesia
Horas mortas... curvadas aos pés do Monte
A planície é um brasido... e, torturadas,
As árvores sangrentas, revoltadas,
Gritam a Deus a bênção duma fonte!
E quando, manhã alta, o sol postonte
A oiro a giesta, a arder, pelas estradas,
Esfíngicas, recortam desgrenhadas
Os trágicos perfis no horizonte!Árvores!
Corações, almas que choram,
Almas iguais à minha, almas que imploram
Em vão remédio para tanta mágoa!
Árvores! Não choreis! Olhai e vede:
-Também ando a gritar, morta de sede,
Pedindo a Deus a minha gota de água!


Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!


Sonhos
Ter um sonho, um sonho lindo,
Noite branda de luar,
Que se sonhasse a sorrir...
Que se sonhasse a chorar...
Ter um sonho, que nos fosse
A vida, a luz, o alento,
Que a sonhar beijasse doce
A nossa boca... um lamento...
Ser pra nós o guia, o norte,
Na vida o único trilho;
E depois ver vir a morte
Despedaçar esses laços!
......É pior que ter um filho
Que nos morresse nos braços!

Se tu viesses ver-me...

Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços...

Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca... o eco dos teus passos...
O teu riso de fonte... os teus abraços...
Os teus beijos... a tua mão na minha...

Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri

E é como um cravo ao sol a minha boca...
Quando os olhos se me cerram de desejo...
E os meus braços se estendem para ti...
Florbela Espanca

José Duro


Nome: José Duro
Naturalidade: Nasceu em Portalegre e viveu entre 1876 – 1899.

Poesia


EM BUSCA


Ponho os olhos em mim,como se olhasse um estranho,
E choro de me ver tão outro, tão mudado…
Sem desvendar a causa, o íntimo cuidado
Que sofro do meu mal — o mal de que provenho.

Já não sou aquele Eu do tempo que é passado,
Pastor das ilusões perdi o meu rebanho,
Não sei do meu amor, saúde não na tenho,
E a vida sem saúde é um sofrer dobrado.

A minh’alma rasgou-ma o trágico Desgosto
Nas silvas do abandono, à hora do sol-posto,
Quando o azul começa a diluir-se em astros…

E à beira do caminho, até lá muito longe,
Como um mendigo só, como um sombrio monge,
Anda o meu coração em busca dos seus rastros…


José Duro

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Ada Tavares


Nome: Ada Tavares
Naturalidade: Nasceu emem Odemira, a 5 de Novembro de 1930.
Tem muitos poemas sobre o Alentejo, um dos seus livros chama-se «Alentejo em Mim».

Poesia



O Alentejo é lá


É lá onde o Sol desce a violar

a terra provocante de nudez,

que emprenha uma e outra e outra vez,

de Sonhos, que já cansa de abortar...

É lá onde a Lonjura por lavrar

nem sombras a dividem lés-a-lés...

Só a noite a parcela e faz mercês

erguendo muros brancos de Luar.


E lá onde se chora de cantigano

embalar dolente a Dor antigaque,

desperta, se agita e faz ruim...
Onde há suor em bagas pela eira,

e esp'ranças crepitando na lareira,

- O ALENTEJO é lá ... e é EM MIM.

HOJE HÁ PÃO ALENTEJANO?

Esta frase tão ouvida
neste tom interrogado
não é sentença perdida
nem um pregão inventado,
nem dito voando à toa ...Oh senhores, mas quem diria
que eu ia ouvir isto um dia
aos balcões de Padaria
desta moderna Lisboa?!
"Hoje há pão alentejano?!"
E se o empregado diz:
-"Olhe, acabou de chegar."ri a freguesa feliz
e estende o saco apressada
pois não vá ele acabar ...e pede firme, sem graças,
que não pode haver engano:-"Ponha-me aí dez carcaças
e um pão alentejano".
Ai é vê-lo meus amigos,
este pão que era só nosso,
o nosso Bem de raiz
em pretensões, sem ganância,
como ganhou importância,
- como ganhou um País.Todos o querem agora,
por inteiro ... uma fatia ...
umas migalhas ... um naco
...Pão nosso de toda a hora
que é farinha doutro saco.
Venham vê-lo na Taberna
ou no fundo duma Adega
como alegra o camponês:
-ensopa o copo de três
-abafa raios e coriscos
-faz de cama prós petiscos
...e aconchegada a barriga
logo a voz se faz cantiga,
põe-se o Sol, vai-se a fadiga
que a noite mal começou,
e...'às quatro da madrugada
um passarinho cantou..."
Ó pão do meu Alentejo
que bela lição tu deste
na tua nobre humildade,
e como tu aprendeste
a usar fraternidade.?E sem briga, e sem guerra,
sem essa confusão louca,
deste nome à nossa terra,
levaste-a de boca em boca...
Pois também vai a banquete
se a solenes beberetes
nas salas bem afamadas,
posto assim em pedacinhos,
feito "tapas" e "entradas',
regado com os melhores vinhos.
É o mais requisitado,pedido
por encomenda,
e vai em naperons de renda
até à mão de ministros.
E deu no goto a estrangeiros
e a certos senhores bem vistos
que o acham uma riqueza
e o querem na sua mesa ...Não se recusa a ninguém, dá-se a ricos,
pobrezinhos, a crianças e a velhinhos
e aos doentes também.
Pão de Paz ! Pão de Alegria !
Pão de Amor! Pão de Verdade!
É como nós neste dia,
uma mistura sadia
de renovo e de saudade.
Ada Tavares

terça-feira, 13 de maio de 2008

António José Belo

Nome: António José Belo
Naturalidade: Montalvão, freguesia localizada extremo norte do Alentejo, distrito de Portalegre.
Nasceu a 25 de Junho de 1912 e faleceu aos com 90 anos, em Nisa.
Artesão, músico, apresentador de espectáculos, construtor de cenários e de peças de teatro, etnógrafo, um elemento muito activo em Montalvão. A sua poesia, as populares quadras e décimas tornaram-no poeta.


Poesia
O Botão de Rosa


Que lindo botão de rosa
Aquela roseira tem,
De baixo não se lhe chega
Acima não vai ninguém.

No muro de uma vivenda
Está uma jovem sentada
Prazenteira e descuidada
Comendo a sua merenda,
Usava saias de renda
A rapariga formosa
Mas era tão graciosa
E por baixo o namorado
Dizia entusiasmado:
Que lindo botão de rosa!

A jovem não reparava
Na testemunha indiscreta
Olhando o prado quieta
Com gosto a broa trincava
Mas o rapaz que olhava
E analisava também
Os encantos do seu bem
E murmurava baixinho:
Olha que tanto espinho
Aquela roseira tem!

Por fim a mocinha linda
O rapaz intruso viu
Mas disfarçou e fingiu
Não o ter topado ainda
A merenda estava linda
Mas ela não se conchega
Entre a posição de pega
Ele diz todo airoso:
Aquele botão formoso
De baixo não se lhe chega!

Ela ouviu isto e com ronha
Sorrindo pouco se ensaia
Ainda mais ergueu a saia
Fingindo não ter vergonha
Numa enrascação medonha
O rapaz cora, porém
Ela o riso não sustém
E olhou para baixo trocista:
Goza meu amor com a vista
Mas acima não vai ninguém!


António José Belo

António Simões


Nome: António Simões
Naturalidade:
Beringel, concelho e distrito de Beja
Nasceu a 29 de Novembro de 1934. Licenciou-se, pela Universidade de Coimbra, em Filologia Germânica.



Obras publicadas:
"Soneto de Água" (1994);
"A Festa das Letras" (1995)
"Minha Mãe Amassa o Pão" (2001).
Tem poemas publicados em diversos jornais e revistas.
Está representado na antologia Poetas Alentejanos do Século XX (1984) e é colaborador da Revista Rodapé da Biblioteca Municipal José Saramago de Beja.



Poesia
Excerto de “Minha Mãe Amassa o Pão”


"Minha mãe amassa a vida,

E a vida cabe-lhe inteira

Na farinha desmedida,

No infinito da peneira.




Minha mãe amassa o dia,

No alguidar, sobre o banco,

E do forno da alegria

O pão loiro sai tão branco.




Minha mãe amassa o ar,

Duma leveza infinita

Quando fica a levedar,

A massa inteira levita.




Minha mãe amassa as flores,

As que no campo se dão

E há mil cheiros, mil sabores

Numa fatia de pão.




Minha mãe amassa e diz

Pra dentro do coração,

Que só pode ser feliz

Quando os outros também são.




Minha mãe amassa o verde

Duma seara de trigo

Vais matar-me fome e sede,

Alentejo, eu te bendigo!”

António Simões

sábado, 5 de abril de 2008

Exposição Fotográfica: Alentejo não tem sombra


Na exposição de fotografia procuro transmitir os sentimentos, o impacto visual da imagem Alentejo, valorizando e promovendo a reflexão sobre esta região.
"Alentejo Não Tem Sombra" é uma exposição fotográfica onde uma curiosa fotógrafa amadora, uma alentejana apaixonada pelo Alentejo, pretende transmitir o Alentejo, através da imagem das gentes, paisagens e do património edificado.
Imagine um candeeiro a petróleo a arder, numa casa de paredes brancas, numa noite mágica em que os cabelos brancos e as rugas são bordados com palavras cantadas numa melodia doce :
“Alentejo não tem sombra
Senão a que vem do céu,
Assenta-te aqui amor
À sombra do meu chapéu.”
cantiga popular

Gentes
No Além Tejo…Quando o sol nasce, desenterra a luz das planícies, o céu azul contempla-se no quadro de mistério – Nasce o sol no Alentejo.
O vento sopra de mansinho num cante arrastado, enquanto nos campos ondulados de trigo os movimentos ritmados fazem lembrar os grupos de cante.
A fé do alentejano é veiculada no cante magoado, num destino traçado, na noite que adivinha.
O chão recebe apenas as lágrimas dos que deixam de acreditar… e as ribeiras essas continuam a correr brilhantes e calmas, sozinhas.
No horizonte o sol vai alto, o calor faz suar o trigo que protege a papoila vermelha, fresca, sadia, nascida na braveza e, às vezes, perdida.
Na imensidão da planície erguem-se, vestidos de branco cal, os montes baixinhos, de paredes largas e irregulares, desenhando a base de uma pirâmide com o topo em vermelho barro, é esta a arquitectura tradicional.
O calor adormece com o piar da coruja, a lua revela as sombras que se esconderam nas cores do dia. O Alentejo à noite tem cheiro a esperança, proporcionado pela lembrança e reforçado pelo “viver”.
Acreditar na visão, numa outra razão é a origem do saber. Acreditar no Sonho e trazer o seu dono para a terra da saudade, mas o dono da verdade!
Levanta-se o olhar de planície, grita-se a nossa história, o eco faz soar por todo o lado: Sei quem era, hoje sem sombra quero acreditar sempre – ALENTEJO.
Lénia Santos
Gentes






Paisagem Natural
”Geme o restolho triste e solitário, a embalar a noite escura e fria e a perder-se no olhar da ventania, que canta ao tom do velho campanário.
Geme o restolho preso de saudade, esquecido, enlouquecido, dominado, escondido entre as sombras do montado, sem forças e sem cor e sem vontade.
Geme o restolho a transpirar de chuva, nos campos que a ceifeira mutilou, dormindo em velhos sonhos que sonhou, na alma a mágoa enorme, intensa, aguda. Mas é preciso morrer e nascer de novo, semear no pó e voltar a colher, á que ser trigo depois ser restolho, á que penar para aprender a viver. A vida não é existir sem mais nada, a vida não é dia sim, dia não, é feita em cada entrega alucinada para receber daquilo que aumenta o coração. “
Mafalda Veiga

Paisagem Natural










Património Edificado
Com o vagar da sombra na lonjura,
Que a tarde entorna sobre o descampado,
A distância prolonga-se e perdura para lá deste tempo limitado. Vem de longe o aroma a terra pura, repetir as lavoiras do passado e eu sou a mais Estranha criatura, sobre a terra que sonha o céu estrelado. E o poente põe luzes na cidade, mas a cidade nem sequer supõe a luz dolente que o Poente encerra. Nada me sei todo me sinto e há-de ser sempre assim que o sol quando se põe me põe a mim a prolongar a terra.
Paulo Ribeiro

Património Edificado