segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Meio- dia


Céu baço.
Quente quebrando
se espalha, no longe,
enquanto cantam cigarras à roda...
E parou-se a vida toda;
porque o sol tudo queimou.
Só, no ar quente, pairou
um negro corvo e poiso
sobre o montado sangrando,

nos troncos rudes despidos...

Redobram roucos zumbidos
de moscardo que passando,
em cega-rega, adormecem,
entorpecendo os sentidos...
...Sobre meus olhos cansados e cerrados
há véus de chamas que descem...

[de Poesia]
Meio - dia

Francisco Bugalho
Este foi o poeta a quem José Régio chamou o pintor da Natureza, pois este recorre a uma expressiva paleta de sensações com que ilustra a Natureza.

Nunca vi um alentejano a cantar sozinho...
















Nunca vi um alentejano a cantar sozinho com egoismo de fonte.

Quando sente voos na garganta,
desce ao caminho
da solidão do seu monte,
e canta
em coro com a familia do vizinho.

Não me parece pois necessária outra razão
-ou desejo
de arracar o sol do chão-
para explicar
a reforma agrária
do Alentejo.

É apenas uma certa maneira de cantar.


Circunstâncias, IV
José Gomes Ferreira
Poeta do Porto
in Alentejo não tem sombra antologia contemporânea sobre o Alentejo organizada por Eugénio de Andrade